Por Gabrielle Adabo - IEI Brasil
Um debate sobre o Plano Nacional de Energia (PNE) 2050 da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e as medidas para a redução da emissão de gases de efeito estufa do Acordo de Paris trouxe à tona a importância da eficiência energética. O evento “O Acordo de Paris e a Estratégia de Longo Prazo do Brasil” (realizado em 02/10/2020) foi organizado pelo Fórum Brasileiro de Mudança do Clima (FBMC) e contou com a participação de representantes da EPE e dos diversos setores da área de energia.
Thiago Barral, presidente da EPE, apresentou o PNE 2050, que se encontra em processo de consulta pública (até 13/10/2020) – em dezembro será publicada a edição final do plano, com as contribuições obtidas durante os três meses de consulta pública. O Plano, segundo Barral, apresenta cenários trabalhados para o setor, mas alcança todo o sistema de energia de forma geral, e priveligiou a flexibilidade. O PNE é, de acordo com a apresentação do presidente, um desenho de estratégia que busca trazer uma visão de longo prazo dos custos. Os principais objetivos da estratégia foram descritos como impactos ambientais, nos quais se insere o combate às mudanças climáticas, desenvolvimento socioeconômico, tendo a energia como fator fundamental, além da segurança energética e a competitividade. A partir desse desenho da estratégia se desdobram planos de ação e monitoramento.
Um cenário de expansão, com forte crescimento da demanda de energia nas próximas três décadas, foi a base para o PNE 2050. Barral explicou que mesmo que haja ganhos de eficiência, ainda haverá um aumento da demanda por energia associada ao desenvolvimento do país – a demanda energética em 2050 será 2,2 vezes a de 2015. Entre as vulnerabilidades apresentadas, está a elevada ineficiência energética sistêmica do país associada a, entre outros fatores, as perdas comerciais nas redes elétricas e padrões construtivos inadequados.
Durante os comentários dos representantes dos diversos setores da área de energia, o papel da eficiência energética dentro do PNE e para atingir as metas do acordo de Paris foi destacado. Amanda Ohara, do Instituto E+ Transição Energética, ressaltou o papel central da eficiência energética no processo de transição. “A eficiência energética é o primeiro passo da transição energética. A primeira coisa a se fazer ao olhar o sistema é ver como ele pode trabalhar de maneira mais eficiente para então avançar para como essa oferta de energia se ajusta a uma economia de baixo carbono”, disse. Isso representa, na prática, segundo ela, que, antes de se pensar na expansão da oferta de energia, seria importante verificar o alcance das iniciativas de eficiência energética no sistema.
Gilberto De Martino Jannuzzi, professor da Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM) da Unicamp, foi convidado para falar sobre eficiência energética. Jannuzzi explicou que a eficiência energética só tem sentido no sistema energético e deve ser olhada “como um recurso que custa, que tem que ser planejado”. Jannuzzi também chamou atenção, como membro da Coordenação do Programa de Mudanças Climáticas Globais da Fapesp, para a eficiência energética como uma inovação não só tecnológica – são importantes a dimensão da infraestrutura física, da infraestrutura institucional e regulatória e, principalmente, a dimensão humana, segundo ele. “A eficiência energética tem uma interface enorme com o usuário: como esse usuário entende, com a educação dele, como o sistema econômico facilita ou não”, disse.
Jannuzzi destacou no PNE 2050 as ideias de flexibilidade e de eficiência sistêmica. “Isso me deu muita esperança de ter uma visão do papel da eficiência nesse contexto mais complexo e de longo prazo”. O professor da FEM ponderou, no entanto, que a eficiência energética não aparece entre as fontes apresentadas pelo plano. “Nós tiramos bilhões de reais de consumidores que pagam tarifas para investir em P&D e eficiência energética (...). São recursos regulados, nós estamos investindo isso há mais de 20 anos, e eles não aparecem de maneira quantitativa e planejada nos planos”, disse. Com relação à eficiência energética, Jannuzzi também lembrou que nós temos uma meta do Acordo de Paris a ser atingida e que é preciso calcular de forma rápida o quanto isso vai nos custar e como fazer.
José Roberto Moreira, do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP, também abordou a eficiência energética em sua fala. “É fundamental, quando alguém pensa em um cenário de expansão econômica tão grande, fazer um gráfico, no eixo y colocar a eficiência econômica e no eixo x colocar a eficiência energética, e vocês vão ver que elas andam juntas”, disse. Para que o Brasil seja um país desenvolvido em termos econômicos, segundo Moreira, é preciso de muita eficiência energética. “O documento (PNE) tem que tratar com mais carinho, até, a eficiência energética. (...) A eficiência energética realmente é um contribuinte importante”, completou.
O evento na íntegra pode ser assistido aqui:
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