Por Gabrielle Adabo - IEI Brasil
Os indicadores de eficiência energética que foram a base para o Atlas da Eficiência Energética no Brasil, publicado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), foram apresentados, com os seus principais resultados, em um webinar na tarde de ontem (23/07/2020). Jeferson Borghetti Soares, assessor da Diretoria de Estudos Econômico-Energéticos e Ambientais da EPE, explicou a construção dos indicadores e mostrou alguns dos resultados para os setores industrial, residencial e de transportes.
Segundo o representante da EPE, o objetivo principal de ter os indicadores era medir a contribuição da eficiência energética, principalmente em relação ao consumo e ao PIB brasileiros. Os indicadores de eficiência energética utilizados no Atlas fazem parte de um sistema de monitoramento que foi customizado para o Brasil a partir da base de dados europeia Odyssee (acesse aqui, em inglês). Eles são divididos em quatro categorias: intensidade energética (que relacionam energia e atividade econômica), consumo específico (relacionam energia e nível físico de atividade), difusão de mercado (grau de penetração tecnológica) e indicadores ajustados (que removem efeitos de algumas variáveis).
Soares também explicou que os indicadores são baseados em um índice chamado Odex (Odyssee energy efficiency index), que quantifica a eficiência energética. O Odex faz a comparação da eficiência energética a partir de um ano base, que corresponde a um estado sem eficiência. Ele também permite que dados de consumo – de diferentes segmentos, por exemplo – sejam colocados em uma mesma base. A evolução dos setores pode, então, ser apontada em índices e ponderada em relação ao consumo de energia.
Com relação aos resultados obtidos a partir dos indicadores, o assessor da EPE ressaltou que o foco é no consumo final de energia dos setores, até 2018. Os indicadores demonstram tendências globais e setoriais, além dos resultados do conjunto de políticas, programas e ações voluntárias de eficiência energética. O Brasil como um todo progrediu 14% em relação à eficiência energética, no período de 2005 a 2018, segundo o Odex.
Soares explicou que os resultados apontam um avanço heterogêneo da eficiência energética nos setores residencial, da indústria e dos transportes. A indústria é o setor que menos avançou – cerca de 10% desde 2005. Os resultados dos indicadores, segundo ele, devem ser analisados à luz dos movimentos históricos dos setores e dos diversos aspectos e fatores que podem afetar os diferentes segmentos. A indústria cresceu de 2000 a 2010, mas logo depois sofreu retração, o que impactou o consumo de eletricidade pelo setor (e pode ser erroneamente interpretado como eficiência energética). Os indicadores permitem fazer a desagregação do consumo de energia, atividade, estrutura e intensidade da eficiência energética. As comparações dos resultados dos indicadores entre o Brasil e outros países também devem ser cuidadosas, segundo Soares, e considerar a realidade de cada país, como os aspectos estruturais de produção, para não realizar comparações errôneas ou criar metas inatingíveis.
O setor residencial, por sua vez, foi o setor que mais avançou em eficiência energética – 21% de 2005 a 2018. Esse resultado, segundo Soares, foi afetado principalmente pela revisão e implementação de índices mínimos para equipamentos que consomem eletricidade. O período também foi caracterizado por um grande aumento na posse de equipamentos – que são mais eficientes em relação aos antigos. Outro fator apontado pelo representante da EPE como favorável à eficiência energética no setor residencial é a substituição de fontes de energia menos eficientes, como a lenha, por gás natural, GLP ou energia solar. No período de 2005 a 2018, os ganhos de eficiência energética do setor quase anularam o aumento no consumo de energia devido ao crescimento demográfico. No entanto, apesar dos ganhos de eficiência, o indicador relacionado ao consumo per capta do Brasil ainda é muito baixo quando comparado ao de países desenvolvidos como os Estados Unidos. Segundo Soares, o Brasil ainda tem muito a crescer nesse sentido e a eficiência energética pode colaborar nesse processo.
Com relação ao setor de transportes, os ganhos de eficiência energética no período analisado (2005 a 2018) foram de quase 20%. O assessor da EPE, no entanto, descreveu esse setor como complexo e desafiador para a promoção de ganhos de eficiência, pois é necessária a articulação com setores de infraestrutura de transportes e cidades e com as políticas de mobilidade urbana. Um dos fatores que desacelera os ganhos de eficiência do setor é o crescimento na aquisição de veículos leves no transporte individual de passageiros. Entre os fatores que favoreceram os ganhos, ele destaca a evolução das tecnologias de motores e, no transporte rodoviário, a renovação de frota e os investimentos em infraestrutura.
Por fim, Soares destacou que “o monitoramento dos ganhos de eficiência energética se constitui em elemento fundamental para promover debate em torno do tema e identificar oportunidades de avanços”.
O "Atlas da Eficiência Energética no Brasil – Relatório de Indicadores" foi lançado pela EPE em fevereiro deste ano e pode ser acessado aqui). Aqui você confere o vídeo do webinar na íntegra.
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