Pesquisa elenca projetos mais eficientes da categoria de baixa renda do PEE ANEEL

Publicado em 27/Fev/2020 às 16h42 Atualizado em 27/Fev/2020 às 17h22

Por Sarah Schmidt

Uma pesquisa realizada pelos estudantes de mestrado do Planejamento de Sistemas Energéticos da Unicamp, Stella Sousa e Pablo Dadalti, sob orientação do então diretor-executivo do IEI Brasil, Gilberto Jannuzzi, foi selecionada para ser apresentada no World Sustainable Energy Days 2020, que ocorre entre os dias 4 e 6 de março de 2020 em Wels, na Áustria. O artigo “Performance de projetos de eficiência energética de baixa renda (2008-2013)” apontou os 26 projetos mais eficientes dentre 104 analisados. Os dados utilizados na análise fazem parte do banco de dados do MonitorEE

Todo mês, ao pagarmos a nossa conta de eletricidade, uma pequena parte deste valor é destinada ao Programa de Eficiência Energética (PEE) da distribuidora de energia elétrica regulado pela ANEEL. A análise observou o custo-efetividade dos projetos de Subclasse Residencial Baixa Renda do PEE das distribuidoras entre 2008 a 2013. Somente foram considerados os projetos concluídos e aprovados pela agência que até o momento da pesquisa abrangiam esse período. 

Para isso, foram analisadas três variáveis: custo dos projetos, energia economizada e a demanda reduzida na ponta, o “horário de pico”. “A categoria de baixa renda foi escolhida porque era aquela em que havia mais investimento”, relata Stella Sousa. A categoria é formada pelos consumidores que se enquadram na Tarifa Social de Energia Elétrica, de acordo com a Lei 12.212, de janeiro de 2010. A grosso modo aqueles cuja renda familiar mensal por pessoa seja menor do que metade de um salário mínimo e que sejam inscritas no Cadastro Único do governo federal. 

Stella Sousa e Pablo Dadalti observaram os indicadores econômicos dos projetos de baixa renda
Stella Sousa e Pablo Dadalti observaram os indicadores econômicos dos projetos 

Dentro do programa, as concessionárias e distribuidoras de energia realizam ações com consumidores, como a troca de equipamentos antigos por aqueles que são mais eficientes. Entre os projetos analisados, as ações mais realizadas foram: troca de lâmpadas, troca de geladeiras, troca de chuveiro elétrico e a instalação de aquecimento solar para a água do banho. As ações têm resultados e impactos diferentes. 

“A troca de lâmpadas, por exemplo, tem redução alta de demanda na ponta, porque as pessoas acendem mais as lâmpadas durante a noite. Já a troca de geladeira impacta e ajuda a economizar, mas não diminui a demanda na ponta, essa demanda é ligada ao uso”, explica Sousa. Esses resultados são ligados aos hábitos de consumo dos equipamentos.

Indicadores

Para elencar os projetos mais eficientes, foram criados dois indicadores que, quanto menores seus valores, melhores seus desempenhos:

  • custo anualizado total por energia economizada: reflete o custo de se evitar uma unidade de megawatt-hora (MWh) 

  • custo anualisado total por demanda reduzida na ponta: custo de retirar um quilowatt (kW) de potência na ponta - que é quando a sociedade (com os seus aparelhos funcionando) demanda mais energia ao mesmo tempo (horário de pico ou de ponta). 

A conclusão é a de que existem projetos mais eficientes que custam menos do que adicionar infraestrutura no sistema. Ou seja, foi comparado o custo que o projeto teve para evitar o gasto energético com o custo que o governo teria para expandir a geração do sistema elétrico, caso essa quantidade de eletricidade não fosse economizada. Mesmo sendo mais eficientes, podem melhorar. "Observamos que existem projetos eficientes, mas por outro lado, projetos que têm um potencial de melhora muito grande"”, explica Sousa. 

O estudo mostrou que, com os 26 projetos mais eficientes, houve uma economia de 8,74 US$ por MWh caso as ações de eficiência energética não tivessem sido realizadas. 

Outra descoberta é que os projetos que envolveram ações de troca de iluminação apresentaram melhor custo-benefício. Não à toa, dentre as ações realizadas nos projetos analisados, todas tinham um componente de troca de lâmpadas. 

No artigo, os autores destacam que os projetos mais eficientes “podem servir como referência para que concessionárias de serviços públicos aprendam uns com os outros, repetindo as melhores práticas e desempenho, e alcançando o nível ideal de investimento e economia de energia e redução de demanda máxima”.

É importante destacar que essa é uma análise feita apenas sob o olhar econômico. “É uma análise estritamente financeira. Esses projetos de baixa renda também têm ações socioeducativas, que focam na conscientização, além de cursos profissionais sobre eficiência energética para eletricistas, por exemplo, e que não foram mensurados”, afirma a pesquisadora. Sousa contou que, em sua dissertação de mestrado, que será defendida no dia 2 de abril, desenvolveu outros indicadores que permitam avaliar e atribuir valores às ações sociais de projetos do PEE. “Alguns programas que realizam ações socioeducativas, por exemplo, podem ter um custo mais elevado e isso não aparece como resultado quando se observa apenas o indicador econômico”, finaliza. 

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